quinta-feira, 27 de maio de 2021

FARSA TRÁGICA (1964). Dir.: Jacques Tourneur.


NOTA: 9.5 



Não há dúvidas que a American International Pictures foi responsável por alguns dos melhores filmes de terror dos anos 60, muitos deles, parte do fantástico Ciclo Edgar Allan Poe, de Roger Corman, estrelados por Vincent Price.

 

Pois bem, hoje vou falar sobre um dos filmes do estúdio, que não faz parte do Ciclo Poe, mas é estrelado por Vincent Price e por outros grandes atores do cinema de horror: FARSA TRÁGICA (1964), dirigido por Jacques Tourneur, responsável pelo clássico Sangue de Pantera (1942). Devo dizer que este é um dos melhores filmes de terror que já tive o prazer de assistir.

 

Justamente por ser uma produção da A.I.P., de James H. Nicholson e Samuel Z. Arkoff, que, como já comentei em outras resenhas, trouxe de volta o terror gótico para o cinema, e este aqui é um de seus melhores exemplares. Mas espere, não vá encontrar castelos empoeirados a beira-mar; pelo contrário. Aqui nós temos uma pequena comunidade da Nova Inglaterra como cenário, mais precisamente, uma casa funerária, administrada pelo Sr. Trumbull e pelo Sr. Gillie, dois agentes funerário completamente idiotas.

 

Sim, esta é uma comédia de horror, e uma das melhores, graças ao roteiro inspirado, que coloca os momentos cômicos na hora e na medida certas, quase sem apelar para exageros. Mas não se engane, pois mesmo se tratando de uma comédia, ainda assim, este é um filme de terror com tudo que tem direito.

 

A começar pela própria ambientação. A história toda se passa dentro da casa funerária de Trumbull e Gillie, além de conter cenas ambientadas no cemitério envolto em nevoas e em casarões antigos; dois dos principais elementos presentes no terror gótico daquela época. E além disso, temos também um elemento importante que configura no gênero, um morto que volta à vida, não como zumbi, mas por se tratar de alguém catalético. E todos esses elementos funcionam muito bem, porque cada um tem o seu proposito dentro da história.

 

O roteiro de Richard Matheson é afiado, conforme mencionado acima e consegue divertir e assustar na medida certa. E temos grandes cenas de humor, todas protagonizadas por Price, que entrega uma ótima atuação, sendo perverso e engraçado – principalmente engraçado – ao mesmo tempo. O restante do elenco também é inspirado e não parece caricato nunca.

 

Temos também a direção de Jacques Tourneur, especialista no gênero, responsável por filmes memoráveis, muitos deles produzidos pela RKO. Tourneur se mostra um grande diretor, e conseguiu criar cenas ótimas, principalmente por conta do orçamento da qual dispunha. Devo destacar também a direção de arte, que criou cenários fabulosos, principalmente o cemitério e as mansões grandiosas.

 

Mas, vamos falar do humor. Conforme mencionei, o humor deste filme é mais focado nos diálogos e atuações do que em ações, então, não espere muitas pessoas caindo e tropeçando – temos isso, sim, mas não aos montes. Ao invés disso, os atores são os responsáveis por arrancar risos do espectador, especialmente Price, que se mostrou um grande ator de comédia. Suas cenas são impagáveis, com destaque para a cena do jantar após o funeral que deu errado. Toda vez que eu assisto, eu dou risada, porque é muito engraçada mesmo. Há outros momentos assim, mas esse é o meu favorito.



 

Outra coisa que merece destaque é o elenco, formado por grandes astros do horror. Além de Price, temos também Peter Lorre, Basil Rathbone, Joe E. Brown, e Boris Karloff. Loree, Rathbone e Karloff são velhos conhecidos do gênero. Lorre estrelou o clássico M (1931), de Fritz Lang; Rathbone interpretou Sherlock Holmes no cinema em 14 produções, entre elas, O Cão dos Baskerville (1939) e Boris Karloff... Karloff tornou-se famoso pela sua interpretação como a Criatura em Frankenstein (1931), de James Whale. Então, é, ou não é um elenco de astros do horror? E como já mencionei, todos estão perfeitos nos papeis, principalmente Karloff como o velho Amos Hinchley, e Rathbone como o Sr. Black, o dono do imóvel que recita Macbeth antes de dormir. Eles também têm suas cenas hilárias, principalmente no final do filme.

 

Como em toda comédia, aqui temos velhos truques para tornar o filme mais engraçado, sendo os mais utilizados, sons de assobios e baques; e o efeito de acelerar a cena, utilizado no início e no final do filme. Ambos os efeitos são bem executados e não soam artificiais.

Bem, conforme mencionado, esses são os aspectos que fazem desse um filme muito divertido e arrepiante na medida certa. É uma comédia cheia de erros – não erros técnicos, mas erros nas ações dos personagens – que a deixam mais engraçada.

 

Foi lançado em DVD no Brasil pela Versátil Home Vídeo, na coleção Obras-Primas do Terror – Vol.3, após anos fora de catalogo.

 

Enfim, Farsa Trágica é uma verdadeira comédia de horror. Grandes astros do terror, juntos em uma história muito engraçadas, cheia de erros, trapalhadas, personagens idiotas e sustos. Um filme de terror gótico, com tudo que tem direito. Diverte sem apelar para truques. Muito bem feito, assustador e divertido. Excelente. 


Créditos: Versátil Home Vídeo


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