AVISO.
O LIVROS & FILMES DE HORROR está em recesso.
Novas resenhas a partir de Fevereiro/2024.
Obrigado.
Resenhas de Filmes de Terror e Livros em geral. Filmes de outros gêneros também são resenhados. Livros técnicos não terão resenhas publicadas.
AVISO.
O LIVROS & FILMES DE HORROR está em recesso.
Novas resenhas a partir de Fevereiro/2024.
Obrigado.
NOTA: 7.5
Durante o final da década de 80 e começo da década de
90, o cinema de horror italiano começava a dar seus últimos suspiros, com obras
ruins e de gosto duvidoso; no entanto, alguns cineastas ainda tentavam extrair
o máximo de conseguiam em filmes que até possuíam um certo charme. Michele Soavi
foi um desses cineastas, tendo apresentado ao publico filmes que possuíam um
teor lírico, mas assustadores ao mesmo tempo.
A FILHA DO
DEMÔNIO é um desses exemplos. Lançado em 1991, produzido e co-escrito pelo
mestre Dario Argento, este é um filme um tanto quanto difícil de classificar,
por causa do seu roteiro um tanto elaborado, que às vezes demora um pouco para
engatar e apresentar uma trama concreta.
A começar pelo seu prólogo, ambientado no Norte da Califórnia
em 1970, onde um grupo de hippies é assassinado por um grupo de satanistas no
deserto. Em seguida, somos levados para a Alemanha, onde um homem mata uma
mulher e arranca seu coração, e, antes de ser preso pela policia, comete suicídio.
Após essa introdução, somos apresentados aos seus
protagonistas, um estranho velho que quase é atropelado por Miriam, uma professora
local. A partir daí, uma serie de eventos estranhos começam a acontecer,
principalmente após a morte do velho, eventos que aparentemente não têm nenhuma
relação entre si e com a trama propriamente dita. Ao meu ver, a própria trama
se desenrola próximo ao final do filme, com a volta de personagens que haviam
aparecido anteriormente.
Mas, apesar do roteiro um tanto confuso no início,
como de costume para os demais filmes de Soavi, temos uma técnica muito boa,
apostando em algumas cenas no lirismo e na beleza, além de uma direção de arte
digna de nota, misturado a uma fotografia inspirada, principalmente nas cenas
ambientadas no porão da casa de Miriam, com uma tonalidade azul forte,
misturada com uma luz que vem de uma janela redonda.
Essa é uma característica muito presente nos filmes
de Michele Soavi, talvez inspirado por Argento e por seus antecessores; mas o
fato é que o diretor dá um toque muito pessoal em suas obras, deixando-as
sempre bonitas e fantasiosas.
Um exemplo é uma sequência em que uma chuva de pólen
cai sobre os cenários, começando pela sequência da escola; uma sequência muito
bonita e muito bem feita, e que remete aos filmes anteriores – e futuros – de Soavi.
Ainda sobre essa cena da escola, uma das crianças utiliza uma mascara de
pássaro enquanto espera por seus pais; outro exemplo da técnica de Soavi, além de
ser um indicio da presença de um pássaro em si no filme.
Além da beleza e do lirismo, Soavi faz uso de lentes
grande-angulares em algumas cenas, principalmente na cena em que o velho pinga
um estranho liquido em seus olhos. O take seja a ser um tanto desconfortante,
visto que Soavi faz questão de focar nos olhos do ator Herbert Lom, de maneira
profunda, enquanto ele pinga o liquido em seus olhos. Faz lembrar os takes nos
olhos de Marylin Burns em O Massacre da Serra
Elétrica, mas com um toque a mais.
Conforme mencionado acima, o roteiro não é um dos
grandes pontos do filme, visto que nunca deixa claro o que está acontecendo ou
qual a relação entre alguns eventos, deixando as respostas apenas para os
momentos finais, onde somos apresentados à uma seita de satanistas, entre eles,
o mesmo homem que apareceu no prólogo. Ao invés de explicações, temos uma enxurrada
de eventos sobrenaturais acontecendo, aparentemente todos ligados ao porão da
casa de Miriam. Eu já assisti ao filme algumas vezes e tive algumas
dificuldades para entender o que está acontecendo.
Mas, apesar desse roteiro um tanto confuso, vale uma
conferida, seja pela direção inspirada de Michele Soavi, seja pelo seu elenco,
liderado por Kelly Curtis e Herbert Lom. Os dois atores interpretam muito bem seus
papeis, principalmente Lom, que dá vida ao misterioso velho, que se revela
membro da seita satânica.
Foi lançado em DVD no Brasil pela Versátil Home Vídeo
na coleção Obras-Primas do Terror – Volume
8, com áudio em italiano e em versão restaurada, com um depoimento do
diretor.
Enfim, A Filha
do Demônio é um filme bom. Uma obra fantasiosa e lírica, comandada com
maestria por Michele Soavi, conforme é comum em seus filmes. A fotografia e a direção
de arte também merecem menção, principalmente nas cenas do porão, com uma iluminação
que enche os olhos. O roteiro não é o grande atrativo, mas a direção e a técnica
compensam e valem uma conferida. Recomendado.
Créditos: Versátil Home Vídeo. |
NOTA: 10
Existem filmes que são atemporais. Isso se refere a
todos os filmes de todos os gêneros, inclusive aos filmes de terror.
O EXORCISTA,
dirigido por William Friedkin, é um desses casos. Desde o seu lançamento, em
Dezembro de 1973 – há 50 anos – ,o filme mantem o seu impacto até hoje como o
maior filme de terror de todos os tempos.
Mas o que eu posso dizer a respeito desse filme, que
não tenha sido dito anteriormente por outras pessoas ao longo dos anos?
Bom, acho que posso começar pelo obvio, não é? É um
filme excelente. Mas por que é um filme excelente? Por vários motivos,
principalmente no que diz respeito à técnica.
O filme foi dirigido por William Friedkin, um dos
grandes nomes da Nova Hollywood, a partir de um roteiro de William Peter Blatty,
baseado em seu livro.
Friedkin era um diretor milenar e soube empregar suas
técnicas na direção do filme e faz isso muito bem. O cineasta fez uso de
ângulos e movimentos de câmera criativos para criar as cenas, a partir de
câmera na mão e mecanismos até então inéditos no cinema.
Além disso, ele soube criar cenas verdadeiramente
tensas, aos poucos, até culminar na sequencia do exorcismo, que com certeza é a
mais lembrada até hoje.
Minha historia com esse filme começou por causa da
minha mãe, que assistiu a ele no cinema e se impressionou muito, tanto que
ficou com muito medo, por anos. Acredito que a primeira vez que soube desse
filme, foi no vídeo de comemoração de 75 anos da Warner Bros., onde foram
exibidos diversos clipes de vários filmes do estúdio. Não me lembro o que
aconteceu depois, mas eu descobri que a minha mãe havia assistido no cinema e
tinha medo dele. Ao longo dos anos, a presença do filme foi proibida em casa,
por vários motivos, até que em 2001, quando compramos nosso primeiro aparelho
de DVD, a minha mãe alugou esse filme. Eu não consegui assistir a ele por
completo, mas a sequencia do exorcismo me assustou muito. Ao longo dos anos, eu
consegui assistir a ele por completo, e atualmente, faço isso todo ano, no mês
de Outubro.
Mas antes de voltar a falar sobre o filme, devo dizer
que essa resenha corresponde à chamada Versão que Você Nunca Viu, lançada no
ano 2000, com cenas adicionais, que é a que estava disponível no mercado até
recentemente.
Dado o recado, vamos continuar.
Conforme mencionei acima, o diretor William Friedkin
constrói a tensão aos poucos, apostando mais no desenvolvimento dos personagens
e das cenas, apresentando um pouco de terror, depois voltando a cenas
dramáticas, e depois voltando para o terror, até chegar, como eu disse, na
sequencia do exorcismo.
Ou seja, O
Exorcista é contado na técnica slowburn,
que é uma técnica que me chama muito a atenção, porque ajuda a criar a tensão
com mais maestria e até naturalidade. Não que apresentar o terror nos primeiros
cinco minutos não funcione, até funciona, mas depende do filme.
Outra coisa que chama a atenção é o elenco. Todos os
atores estão muito bem, sem atuações exageradas ou caricatas. Quem merece
destaque, com certeza, é a atriz Linda Blair, no papel mais famoso da sua
carreira. A jovem atriz passa tudo aquilo que estava presente no roteiro,
aliado à direção de Friedkin, e claro, os efeitos especiais de maquiagem. A
jovem Regan é uma das personagens mais emblemáticas do cinema de horror de
todos os tempos, sem duvida.
O roteiro de William Platty também é um ponto
positivo. O roteiro possui umas três ou quatro histórias paralelas, que se
entrelaçam com maestria, principalmente a trama do Padre Karras, que quase se
torna a trama principal, porque, de acordo com o diretor Friedkin, o personagem
de Jason Miller era o verdadeiro alvo do demônio; então, tudo que acontece na
tela, é apenas um pretexto para atrair Karras e testar sua fé.
Os efeitos especiais também merecem destaque, criados
pelo mestre Dick Smith. De acordo com o maquiador, ele fez vários testes até
chegar ao resultado que vemos na tela, porque a maquiagem foi um desafio para
ele. Até hoje, os resultados impressionam e assustam, e criaram uma das imagens
mais icônicas do cinema de horror de todos os tempos.
Uma das questões mais pesadas do filme, é a historia
do Padre Karras com sua mãe, sem duvida. É possível perceber que Karras não
aguenta aquela situação, que se tornou um peso enorme para ele, principalmente
porque a mãe está doente e mora sozinha. Toda vez que vejo essa historia no
filme, com base em experiências pessoais, eu sinto que tudo aquilo é muito
pesado para ele.
O Padre Merrin é outro personagem que merece ser
mencionado, graças à interpretação afiada do ator Max von Sydow. A sequencia de
apresentação do personagem, no Norte do Iraque, é muito boa, porque o que a
gente precisa saber sobre ele, que ele é um padre mas também é um arqueólogo, e
que está doente. Uma das melhores, é quando ele encontra a cabeça do demônio
enterrada na terra e sua expressão facial muda na hora; e a cena final desse
prologo, quando ele encontra a estátua do seu antigo inimigo, é muito boa e
muito assustadora, principalmente por causa da imagem do demônio.
A atuação da atriz Ellen Burstyn também é muito boa,
e a atriz passa toda a dor e angustia que estão presentes no roteiro, em
conjunto com a direção de Friedkin. É possível perceber que aquela mãe está
sofrendo com a situação da filha, e não sabe o que fazer. Primeiramente, ela
leva Regan à vários médicos, mas eles não identificam nenhum problema, e
enquanto isso, as manifestações demoníacas continuam; finalmente, após perceber
que não há nada de errado fisicamente com Regan, ela decide procurar um padre
para realizar um exorcismo, reapresentando assim, o Padre Merrin.
O Exorcista faz
parte de uma leva de filmes que são considerados amaldiçoados, por causa de
diversos fatores, acidentes e mortes que ocorreram no set de filmagem, como por
exemplo, o incêndio que aconteceu um dia no set, onde apenas o quarto de Regan
foi poupado, o que obrigou o diretor Friedkin a chamar um padre para abençoar
os sets. Não vou entrar em mais detalhes porque acredito que não se deve mexer
em um vespeiro como esse.
Para encerrar, vou mencionar a grande sequencia do
exorcismo. Ela é, sem dúvida, a melhor sequencia do filme, onde tudo aquilo que
foi apresentado aos poucos levou à ela. O que a torna assustadora é justamente
a técnica de direção de Friedkin. O diretor optou por mantê-la dentro do
quarto, com os padres fazendo o que podem para exorcizar o demônio de Regan, o
que leva à tragédia que todos nós conhecemos. Mas é uma sequencia que
impressiona e assusta é hoje, por causa de tudo que acabei de falar aqui. É uma
das sequencias mais emblemáticas do cinema de horror de todos os tempos.
Foi lançado em Dezembro de 1973 e se tornou um campeão
de bilheteria, tendo sido indicado a 10 Oscars®, mas no entanto, levou apenas
dois, após um boicote armado pelos membros mais velhos da Academia. Além das indicações
ao Oscar®, recebeu também indicações ao Globo de Ouro, tendo levado quatro,
entre eles, o de Melhor Filme Drama. Até hoje, é considerado um dos maiores
filmes de todos os tempos.
Está fora de catalogo há muitos anos, mas lá fora,
foi recentemente lançado em Blu-ray 4k, numa celebração aos 100 anos dos
estúdios Warner.
Enfim, O
Exorcista é um filme excelente. Um filme muito bem feito, com a técnica
milenar e criativa de William Friedkin, aliado a um roteiro afiado e um elenco
inspirado. As atuações são excelentes, e nenhum dos atores está atuando de
forma exagerada e caricata. Os efeitos especiais também são o grande destaque,
principalmente os efeitos de maquiagem de Dick Smith, que criou uma das imagens
mais icônicas do cinema de horror. Sem dúvida, o maior filme de terror de todos
os tempos, e um verdadeiro clássico.
NOTA: 9
Desde sua publicação, no século XIX, Frankenstein, de Mary Shelley,
tornou-se um clássico da literatura e um dos maiores expoentes da literatura de
horror e ficção cientifica. E como todo sucesso literário, ganhou diversas
adaptações para diversas mídias, principalmente para o cinema.
Mas hoje não vou falar sobre as adaptações, e sim,
sobre o livro que deu origem a todas elas: FRANKENSTEIN,
também conhecido pelo subtítulo O
Prometeu Moderno.
De inicio, vou logo avisando. Se você espera
encontrar algo semelhante ao que a Universal fez em 1931, com o Clássico de
James Whale, esqueça, porque aqui temos algo completamente diferente, no que se
refere à criação do Monstro, mas vamos por partes.
Primeiro, devo dizer que este é um livro escrito em
primeira pessoa, nesse caso, pelo próprio Victor Frankenstein, que decide
contar sua história a um homem que conheceu em um navio.
Primeiramente, Frankenstein nos conta como foi sua
vida em Genebra, desde seu nascimento até a entrada para a Universidade. Tanto
a autora como o personagem contam tudo nos mínimos detalhes, não deixando
escapar os pontos principais, entre eles, como Victor conheceu sua prima
Elizabeth e seu amigo Henry.
Em seguida, somos apresentados à vida universitária
do protagonista, quando ingressou na Universidade de Ingolstadt, uma das mais
prestigiadas da Alemanha, onde conhece dois professores, e fica amigo de um
deles, do Professor Waldman. E justamente nessa parte, temos o relato do
narrador a respeito de suas pesquisas a respeito da vida e da morte, e o
momento em que resolve dar vida à sua maior criação.
Esse trecho em particular é narrado em um único
parágrafo, onde a autora nos conta como o personagem deu vida à sua criação,
mesmo que seja de maneira realmente vaga. Como eu disse no início, não espere
encontrar um laboratório com aparelhos movidos a raios e tempestades, porque o
que a autora faz é um mistério, mesmo. Ela descreve como a criatura ganha vida,
todo o processo até os primeiros movimentos da mesma, mas não diz em momento
nenhum como ele fez isso.
Nos próximos capítulos, a autora nos conta como
Frankenstein sobreviveu à criação de seu monstro, logo após abandoná-lo. Ela
descreve as dificuldades e os problemas de saúde do protagonista, visto que ele
passou anos envolvido em seu projeto. No entanto, as coisas melhoram – até
certo ponto – quando Henry o visita com cartas de seus familiares, obrigando-o
a voltar para casa. No entanto, as coisas não são nada animadoras, porque
Frankenstein recebe uma noticia devastadora, que culmina em um julgamento e
condenação de uma mulher inocente.
Mais adiante, Frankenstein chega a encontrar o Monstro,
mas as consequências são devastadoras. Não entrarei em mais detalhes para não dar
spoilers.
Deixe-me falar a respeito do livro.
A escrita da autora é muito boa, apelando para o
texto em primeira pessoa, narrada pelo protagonista ao marinheiro Walton. Apesar
de ter adotado essa técnica de escrita, eu às vezes gostaria que o livro fosse
escrito em terceira pessoa, principalmente por causa de acontecimentos
importantes da trama.
Muitas pessoas consideram Frankenstein um livro de horror, e não deixa de ser, mas eu também
vejo como uma historia dramática, visto que os acontecimentos navegam mais para
o drama do que para o terror, como foi mostrado nas adaptações. A história é dramática
porque somos apresentados a fatos verdadeiramente dramáticos, principalmente
quando envolvem o protagonista e também quando são narrados pela Criatura.
E como é narrado em primeira pessoa, o livro é focado
totalmente no personagem principal; na verdade, o livro é focado em dois
personagens, basicamente: o protagonista, e a Criatura, visto que eles são os
principais narradores, e contam eventos importantes.
Acima de tudo, o livro é sobre arrependimento e
angustia, simplesmente porque Frankenstein se arrepende amargamente de ter
criado seu monstro, desde que o vê abrindo os olhos pela primeira vez; a partir
daí a autora nos conta como o protagonista se sente em relação ao seu
experimento, relatando principalmente o medo que ele tem dos atos da Criatura. Eu
gostei dessa relação de angustia do personagem, mas ao mesmo tempo, achei
alguns diálogos dramáticos demais, mas isso não me fez parar a leitura.
Provavelmente, uma questão de faz desse livro um
produto de seu tempo, sejam os diálogos, que são muito grandes e até filosóficos.
Existem trechos de diálogos que tomam até uma pagina inteira – ou meia pagina,
dependendo da edição – e, às vezes atrapalham um pouco a leitura, mas deve ser
uma técnica de escrita comum para livros dessa época, principalmente se são narrados
em primeira pessoa.
Mas como eu disse, nada disso me atrapalhou a
leitura, e aconselho você que ainda não leu, que dê uma chance à historia.
Deixe-me falar também sobre a criação do Monstro. Ao contrario
do que foi mostrado no cinema, aqui temos um certo mistério em volta da criação,
porque a autora nunca deixa claro para nós como aconteceu; a única pista são os
olhos da Criatura se abrindo e é isso. A descrição também é muito diferente;
aqui, o Monstro é apresentado como um ser humano com pedaços de pele faltando
em diversas partes do corpo, com a pele amarelada.
E também temos aqui um Monstro falante, que exige a criação
de uma companheira. Então, mais uma vez, ao contrario do que foi mostrado no
cinema – com exceções – o Monstro é muito inteligente e articulado com o
protagonista, mas não deixa de ser um assassino.
Enfim, Frankenstein é um livro excelente. Uma história dramática com toques de horror e ficção cientifica, contada de forma inteligente, que não atrapalha a leitura, e às vezes, a deixa mais fluída. Os dois personagens principais são o grande destaque da trama, cada um com suas características e drama peculiares. Um verdadeiro clássico da Literatura de horror e um dos maiores livros de todos os tempos.
MARY SHELLEY. |
NOTA: 9
Entre 1970 e 1971, o diretor Dario Argento lançou sua
Trilogia dos Animais, que se tornaram um marco no Giallo italiano.
Em 1971, mesmo ano em que lançou O Gato de Nove Caudas, Argento lançou QUATRO MOSCAS SOBRE VELUDO CINZA, ultimo filme da trilogia, e um
dos melhores de sua filmografia.
Como boa parte de sua filmografia, Quatro Moscas é um exemplar do Giallo,
aqui, sem apostar na marca registrada do gênero, o assassino de luvas pretas.
Ao invés disso, temos aqui uma outra variação do gênero, apostando em um
assassino diferente.
Mas antes de falar sobre isso, vou falar sobre a
técnica. Como sempre, na primeira fase de sua carreira, Argento se mostrou um
grande mestre na direção, com sua câmera criativa, com ângulos e movimentos
variados, que apostam até na estranheza.
O roteiro, escrito pelo cineasta a partir de um
argumento em parceria com Luigi Cozzi, também é o grande ponto, porque mais uma
vez aposta no suspense e mistério, principalmente em revelar a identidade do
assassino, além de apresentar personagens estranhos e uma lista grande de
suspeitos.
Além de focar no suspense, o roteiro basicamente se
foca em um único personagem, no caso, o musico Roberto Tobias, que é perseguido
por uma pessoa misteriosa, após matar acidentalmente um homem que o acompanhava
diariamente. Essa é a grande sacada do roteiro, porque, num primeiro momento,
pensamos que o estranho de chapéu é um fã obsessivo, que irá transformar a vida
do protagonista em um inferno, mas acontece essa virada na trama, e o
protagonista é perseguido por outra pessoa, com um motivo muito particular.
Mas não irei entrar em mais detalhes para não revelar
spoilers; só digo que a identidade do assassino me pegou de surpresa na
primeira vez que assisti ao filme; e, nas próximas revisões, é possível ver que
as dicas estavam lá, algo comum no gênero.
Como de costume no cinema italiano, principalmente
nos filmes de Argento, o roteiro aposta também em personagens estranhos e
misteriosos, como o escritor de histórias aleatórias, que está sempre contando
o enredo para os amigos; o bizarro carteiro, que faz entregas erradas; e
principalmente, a dupla que ajuda o protagonista – um homem conhecido como
Deus, e outro conhecido como o Professor. Os dois protagonizam os melhores
momentos do filme, principalmente o tal do Professor, que recita os versos da
Bíblia.
Mas o melhor do filme é o mistério, apresentado logo
no inicio, com a presença do homem misterioso. Depois da “morte” do homem,
somos apresentados a um jogo doentio, onde o assassino envia fotos do ocorrido
e pertences do morto ao protagonista, o que o obriga a pedir ajuda aos seus
amigos e a um detetive particular, um dos melhores personagens do filme. Conforme
mencionei acima, é difícil entender o motivo por trás dos atos do assassino, e
qual será o seu próximo passo; culminando numa sequencia de assassinatos, até
chegar a sua identidade.
Também conforme mencionado acima, Quatro Moscas aposta numa grande
técnica de direção de Argento. O cineasta faz uso de métodos criativos, como
movimentos rápidos, planos em POV, ângulos criativos e outros.
E claro, temos a trilha sonora do Maestro Ennio
Morricone, uma das melhores de sua carreira, e a melhor da trilogia.
Foi lançado em DVD no Brasil pela Versátil Home
Vídeo, na coleção A Arte de Dario
Argento, em versão restaurada com áudio em italiano.
Enfim, Quatro Moscas Sobre Veludo Cinza é um filme excelente. Um longa de suspense e mistério, contado com a maestria do diretor Dario Argento, com sua direção inspirada e roteiro afiado, combinado com uma trilha sonora maravilhosa do Maestro Ennio Morricone. Um quebra-cabeça, cujas as peças precisam ser encaixadas cuidadosamente, até chegar a um final de cair o queixo. O filme que encerra a Trilogia dos Bichos.
Créditos: Versátil Home Vídeo. |
NOTA: 9
O Ciclo dos Monstros Clássicos da Universal foi um
dos mais importantes de todos os tempos, não apenas para o cinema de horror,
mas para o próprio estúdio também, pois, foi graças aos clássicos Drácula (1931) e Frankenstein (1931), que os lucros aumentaram durante a famigerada
época da Grande Depressão.
Nos anos 40, o estúdio estava passando por mudanças
em sua administração, resultantes da perda dos Laemmle, no final da década
anterior. Mas isso não impediu o estúdio de produzir novos filmes,
principalmente filmes de terror, e O
LOBISOMEM, lançado em 1941, com direção de George Waggner, é um deles.
Mesmo não tendo sido o primeiro longa a abordar o
tema, esse foi o que apresentou as normas que seriam aproveitadas por cineastas
posteriores.
Tais características foram introduzidas pelo
roteirista Curt Siodmak, que reutilizou a ideia de um roteiro escrito por
Robert Florey, para um projeto destinado ao ator Boris Karloff, que estava em
voga na época, graças ao sucesso de Frankenstein.
No entanto, devido às ideias de Florey, o roteiro foi descartado.
No roteiro de Siodmak, Larry Talbot, um mecânico
americano, retorna à casa de sua família na Inglaterra para instalar um
telescópio, e se torna vitima da maldição do lobisomem. Parece simples, não?
Pois na verdade, o roteiro é um pouco mais enxuto do que isso, pois também
aposta no drama e até no romance, além de focar no tema dos lobisomens de uma
forma até então diferente.
De acordo com historiadores de cinema, Siodmak
utilizou ideias originais, além de estudar um pouco do folclore do lobisomem
para dar vida à sua criatura, e com isso, apresentou conceitos que até hoje são
utilizados, como o uso da prata e da mata-lobos para derrotar a criatura.
Além disso, o filme também apresentou um visual
diferente para a criatura, criado pelo mestre Jack Pierce, que não chegou a
transformar o ator Lon Chaney Jr. em um monstro propriamente dito, mas em
alguém com rosto peludo e dentes afiados, que se tornaria quase que uma
tradição em filmes posteriores, até isso ser quebrado nos anos 80.
E o trabalho de Pierce é excelente porque ele criou
algo que até hoje é reverenciado por profissionais de cinema, principalmente
profissionais de maquiagem, como Rick Baker, um admirador declarado do trabalho
de Pierce. O conceito é até bem simples, mas consegue assustar e impressionar
até hoje.
O restante do filme também merece menção, porque,
assim como o restante dos longas produzidos pelo estúdio naquela época, faz um
excelente trabalho de ambientação, misturando cenários e costumes
contemporâneos com cenários e costumes de épocas passadas, dando a impressão
que o mundo onde o filme se passa não é real; é algo que é de fato convidativo,
que fica melhor a cada vez que assistimos aos filmes.
O Lobisomem foi
dirigido por George Waggner, e o diretor fez um grande trabalho aqui, seja em
termos técnicos, seja com seu elenco. O grande destaque, com certeza, é Lon
Chaney Jr., filho do grande astro do cinema mudo de horror. Chaney passa toda a
sensação de agonia que o roteiro pede, e com isso, deixa evidente, que, no
cinema, o lobisomem é sempre uma vítima de uma maldição, apesar de tal
característica ter sido apresentada em O
Homem-Lobo (1935), o primeiro longa a tratar do tema, também produzido pela
Universal.
O restante do elenco também não faz feio, e não temos
atuações forçadas, e o roteiro de Siodmak ajuda a passar credibilidade dos
mesmos.
Assim como os seus antecessores, O Lobisomem aposta no clima gótico para contar sua história, e
temos provas disso principalmente nas cenas noturnas, quando os cenários são
cobertos por neblina. O aspecto também está presente no Castelo Talbot, em
especial nas cenas externas.
Em 2010, recebeu um remake dirigido por Joe Johnston,
e estrelado por Benicio Del Toro, Anthony Hopkins, Emily Blunt e Hugo Weaving,
que não ofende a este aqui em momento nenhum, e merece ser visto,
principalmente pelo respeito e homenagens que presta a este aqui.
Enfim, O
Lobisomem é um filme excelente. Um longa assustador, que prende o
espectador até hoje. O roteiro de Curt Siodmak é afiado, e o roteirista
aproveitou apenas o titulo do projeto anterior, e fez uso de coisas novas para
contar sua história, que são utilizadas por cineastas posteriores até hoje. Lon
Chaney Jr. é o grande destaque, e passa todas as emoções que estão presentes no
roteiro, além de ter dado vida a um dos maiores monstros do cinema de todos os
tempos. Um verdadeiro clássico.
NOTA: 6
Eu confesso que tenho uma relação estranha com filmes
de temática satanista; mesmo sabendo da existência de alguns clássicos do
gênero, eu sempre assisto a eles com um certo receio, principalmente por causa
das imagens de adoração.
O SANGUE DE
SATÃ, lançado em 1978, com direção de Carlos Puerto e Juan Piquer Simon, é
um desses exemplos.
Desde a primeira vez que assisti a esse filme, eu fui
tomado por uma sensação de estranheza, mistura com certo desconforto,
principalmente por causa de suas cenas especificas – mais detalhes adiante.
Mas antes de falar sobre esses dois problemas, vou
falar sobre o filme.
É possível ver que os diretores se esforçam para
criar uma atmosfera de horror e satanismo, além de contar com um elenco que
convence em suas atuações.
Sendo um filme espanhol, o longa teve cenas rodadas
em Madrid, principalmente no começo, quando casal protagonista está andando
pelas ruas da cidade; as demais cenas foram rodadas em um casarão possivelmente
localizado no interior da Espanha, e tais cenas são muito boas, e passam uma
sensação de desconforto e medo.
O elenco, composto por quatro atores, convence muito
bem em suas performances, principalmente o casal de mocinhos, com destaque
pessoal para a mocinha. A interação entre eles é boa e ambos passam a sensação
de que são um casal de verdade, em especial nas cenas de amor.
O outro casal também passa a sensação de medo que
provavelmente estava escrito no roteiro, sendo amigáveis no começo, e depois,
revelando-se como adoradores de Satã, apesar de falharem um pouco nesse
aspecto.
As cenas de horror são bem dirigidas, principalmente
a cena do tabuleiro Ouija, que é filmada em plano zenital em pelo menos dois
takes. Ela acontece aos poucos, com a tensão sendo construída aos poucos, dando
foco às performances do elenco, principalmente das atrizes.
Como todo exemplar do exploitation, temos aqui cenas apelativas, no caso, apostando em
conteúdo altamente erótico. E vamos aqui falar do maior problema do filme, que
é a cena de orgia que rola durante um ritual. É uma cena que demora muito para
acontecer, que se alterna em vários takes dos casais juntos, e a trilha sonora
também não ajuda. Desde a primeira vez que vi, eu senti um desconforto, e esse
desconforto vem toda vez que a cena começa.
O Sangue de
Satã, conforme o titulo nacional entrega, foi produzido no hype dos filmes
de conteúdo satanista, que surgiram no final dos anos 60. Conforme mencionei no
inicio, eu tenho relação estranha com filmes que focam nesse tópico,
principalmente por causa das cenas que envolvem rituais e adoração, por conta
das imagens. É o tipo de conteúdo que me assusta, dependendo do filme, porque é
impressionante a maneira como são abordadas em determinados longas. Aqui, temos
um conteúdo altamente apelativo, que mostra as imagens que se espera, mas que
no fundo, mostra os satanistas como eles realmente são, pessoas entediadas que
fazem uso do satanismo como desculpa para realizar suas fantasias sexuais.
Além do problema da cena da orgia, temos também um
problema no roteiro em si, a começar pelo prologo, que mostra um ritual
comandado por um velho, mas que não acrescenta em nada à trama, além de ser
muito apelativo e também demorado. Além disso, durante o filme, um homem
misterioso é visto andando pela casa, mas não mostra quem ele é, nem sua
relação com o casal de vilões; ao que parece, seu único propósito é
protagonizar uma cena de quase estupro, onde ele ataca a mocinha.
Junto com esses problemas, temos também a questão do
culto de satanismo em si, porque o roteiro não faz questão de explicar o
mistério dos satanistas, visto que aparentemente, eles estavam mortos desde o
inicio do filme, ou não... Nessa ultima revisão, eu fiquei perdido. O final
também não responde a algumas questões.
Foi lançado em DVD no Brasil pela Versátil Home
Vídeo, na coleção Obras-Primas do Terror
Vol.14, áudio original em espanhol.
Enfim, O Sangue de Satã é um filme bom. Um filme que aborda a questão do satanismo com víeis apelativo e erótico, além de contar com cenas de tensão, mas que causam desconforto no espectador. O elenco é um ponto positivo, e os atores arrancam ótimas performances, principalmente o casal de mocinhos. A direção também consegue convencer, e os diretores criam algumas cenas verdadeiramente tensas. Um cult exploitation que deve agradar aos fãs do gênero.
Créditos: Versátil Home Vídeo. |
NOTA: 9.5
O Ciclo dos Monstros Clássicos da Universal foi um
dos mais importantes de todos os tempos, não apenas para o cinema de horror,
mas para o próprio estúdio também, pois, foi graças aos clássicos Drácula (1931) e Frankenstein (1931), que os lucros aumentaram durante a famigerada
época da Grande Depressão.
A MÚMIA, lançado
um ano depois desses dois primeiros filmes, faz parte desse ciclo, e é um dos
melhores. E motivos para isso não faltam.
Assim como seus antecessores, este filme foi rodado
numa época clássica do Cinema de Horror, e o ciclo da Universal é um dos
maiores representantes dessa época.
O filme é um dos melhores do Ciclo, isso graças à técnica,
a direção do estreante Karl Freund, que foi diretor de fotografia do Clássico
de Bela Lugosi; além da direção, temos a maravilhosa maquiagem de Jack Pierce,
que transformou o astro Boris Karloff em um dos maiores personagens do gênero;
e no topo de tudo isso, temos a excelente atuação de Karloff, que criou um dos
maiores vilões de sua carreira.
O roteiro, adaptado por John Balderston de um
argumento de Nina Wilcox Putnam e Richard Schayer, teve como base a descoberta
da tumba do faraó Tutankhamun, ocorrida uma década antes, que foi envolta em
lendas a respeito de uma maldição. O roteirista Balderston teve uma certa
experiência no assunto, visto que trabalhou como correspondente para um jornal
de Nova York, e esteve presente na abertura da tumba.
Embora utilize a descoberta da tumba de Tutankhamun como
base, o roteiro de Balderston segue por um caminho diferente, abordando a questão
do amor que transcende o tempo, no caso, o amor de Imhotep pela Princesa Anck-es-en-Amon,
que reencarnou na personagem Helen Grosvenor, interpretada pela atriz húngara Zita
Johann. Não sei se o roteiro de Balderston foi o primeiro a abordar tal tema,
mas o fato é que o mesmo seria explorado com mais frequência em filmes
subsequentes do gênero, como o próprio Drácula
de Bram Stoker (1992), de Francis Ford Coppola.
Além da temática da reencarnação e do amor que
transcende o tempo, o roteiro também apresenta personagens verdadeiramente carismáticos
e convincentes, e não fica difícil identificar quem é o protagonista da trama,
e também quem são os aliados na luta contra o vilão. O mocinho da vez é Frank Whemple,
interpretado por David Manners, saído de Drácula;
seu aliado é o Dr. Muller, interpretado por Edward Van Sloan, também saído de Drácula e de Frankenstein também. Os dois personagens são muito bons e fica fácil
torcer por eles no combate final.
A Múmia foi
uma produção conturbada, não apenas por causa do ritmo de produção – naquela época,
segundo historiadores de cinema, o cronograma de filmagens não correspondia a
12 horas de trabalho, então, os cineastas trabalhavam até altas horas da noite –
mas também por causa do relacionamento conturbado entre a atriz Zita Johann e o
diretor Karl Freund. Ainda segundo historiadores de cinema, o relacionamento
entre eles foi conturbado em razão do temperamento da atriz, que era muito
forte para a época.
Outra questão que merece ser mencionada é a
maquiagem, criada pelo mestre Jack Pierce. Segundo maquiador Rick Baker e a
filha de Karloff, o processo era muito demorado e muito doloroso devido às técnicas
empregadas pelo maquiador – dizem que o processo levava horas e horas e Karloff
sentia muitas dores.
E claro, antes de encerrar, devo mencionar a grande atuação
do astro Boris Karloff. Fica difícil dizer qual o melhor momento do filme em
que o astro aparece porque todas as suas cenas são impecáveis. Eu pessoalmente
gosto muito da introdução do personagem Ardath Bay, onde ele mostra aos
professores onde encontrar o tumulo da princesa. Karloff cria aqui um dos
maiores vilões de sua carreira e um dos maiores monstros do Ciclo de Monstros Clássicos
da Universal. O combate final também merece uma menção porque deixa o
espectador apreensivo.
Enfim, A Múmia é um filme excelente. Um dos maiores clássicos do cinema de todos os tempos, com uma atmosfera de aventura, fantasia, terror e romance, que enche a tela e prende a atenção do espectador. O astro Boris Karloff é o grande destaque do filme, com uma atuação inspirada que arranca arrepios do espectador. Um dos melhores filmes de terror de todos os tempos e um verdadeiro clássico.
NOTA: 8.5
O escritor H.P. Lovecraft é um dos maiores autores de
horror e ficção cientifica de todos os tempos, graças às suas histórias focadas
no chamado horror cósmico, e nos Mitos de Cthulhu, que se tornaram um marco em
sua bibliografia.
A SOMBRA VINDA
DO TEMPO, novela escrita pelo autor e publicada em 1936, parece fazer parte
dos Mitos de Cthulhu, mas não tenho certeza porque, de acordo com cada fonte,
as historias presentes nesse universo são diferentes.
Mesmo não tendo certeza se faz parte dos Mitos, A Sombra faz parte da fase do Terror
Cósmico, que se tornou muito famoso na bibliografia do autor. Mas o que é o
Terror Cósmico?
Bem, eu pessoalmente acho um pouco difícil de
definir, visto que existem diversas definições e exemplos visuais, mas ao que
parece, o conceito surgiu nas obras de Lovecraft.
A história é sobre um professor da Universidade
Miskatonic, também presente nas obras do autor, que sofreu um período de anos
de amnesia, enquanto sua mente era possuída por criaturas de outra dimensão,
conhecidos aqui como a Grande Raça. Parece um resumo bem simples, não? Bem, na
verdade é um pouco mais complexo que isso, porque a trama também aborda
questões de viagem no tempo e no espaço.
Eu pessoalmente gostei bastante dessa historia, pois
tenho curiosidade de saber sobre o que se trata o Terror Cósmico de Lovecraft,
e com essa leitura, tive uma amostra.
O texto do autor – descrito em primeira pessoa, como
de costume – é muito bem escrito, e Lovecraft faz uso de descrições detalhadas
para dar vida às suas criaturas e ambientes, principalmente os membros da
Grande Raça, aqui descritos como uma espécie de vida capaz de viajar no tempo e
espaço através da possessão de corpos.
Mas não estamos falando de possessão no sentido
normal da palavra, visto que as criaturas se apossam do corpo e da mente do
protagonista, e o fazem sofrer de amnesia e ter visões horríveis, durante muito
tempo, o que culmina no fim do seu casamento e da relação com dois de seus três
filhos.
Mas vamos falar das criaturas e do lugar de onde elas
vêm. Novamente, tudo está na descrição de Lovecraft, principalmente das
criaturas, que foge completamente do padrão. O autor os descreve como seres
alienígenas em forma de cone, com tentáculos e tenazes e três olhos. Eu já
havia ouvido falar que as criaturas de Lovecraft são incapazes de serem
reproduzidas visualmente, mas aqui confesso que precisei de um pouco de ajuda,
pois não tinha certeza de qual seria sua aparência. E pelo que vi, as criaturas
são de fato assustadoras.
A respeito do lugar de onde vêm, Lovecraft o descreve
como um deserto composto por altas torres escuras, além de bibliotecas,
remetendo, talvez, à sua fase conhecida como Ciclo dos Sonhos, onde suas tramas
eram ambientadas nos desertos da Arábia. Mesmo não tendo lido nenhuma historia dessa
fase, foi essa a impressão que eu tive.
O personagem principal também é muito bem escrito.
Lovecraft o descreve como um professor da renomada Universidade Miskatonic,
especializado em Política Econômica. Segundo informações da internet, existem
laços autobiográficos no personagem, principalmente no que diz respeito à sua
amnesia, que se assemelha ao colapso nervoso que o autor sofreu em sua
juventude. Se é verdade ou não, não sei.
O fato é que é possível simpatizar com esse
personagem, e conforme a leitura avança, vemos que ele é genuinamente
preocupado com o que lhe aconteceu, além de ser determinado em encontrar a
origem das criaturas que o assombram, algo que acontece durante uma expedição
ao deserto da Austrália. Quando li que ele estava retornando de uma expedição,
eu rapidamente fiz uma associação com Nas
Montanhas da Loucura, a grande obra-prima do autor.
Aliás, falando em Nas Montanhas da Loucura, devo destacar que, mais uma vez,
Lovecraft cria uma espécie de multiverso, onde todas suas historias estão
conectadas. Isso porque temos menção às criaturas de Nas Montanhas; à terrível cidade de Arkham; e ao terrível
Necronomicon. Lovecraft já fez isso em outras de suas obras, e é sempre um
prazer ler sobre essas ligações e esse multiverso.
E no final, Lovecraft entrega algo que parece ter
sido de um filme de Indiana Jones, onde o nosso protagonista se aventura pelas
ruinas de uma das torres das cidades da Grande Raça, e encontra um livro que
pode conter a resposta para tudo. Contudo, as coisas não saem como planejado, e
a conclusão da novela é de cair o queixo.
Então temos aqui mais um exemplo da maestria de
Lovecraft em contar histórias, visto que o autor faz tudo com seu estilo
clássico de descrever demais, tanto as coisas quanto as sensações, e confesso
que é um pouco cansativo de ser ler, mas, acredito que se você fizer um
esforço, pode acabar gostando, como foi o meu caso.
Enfim, A
Sombra Vinda do Tempo é uma história muito boa. Uma trama de ficção
cientifica, misturada com horror cósmico, contada com a maestria singular de
H.P. Lovecraft, do jeito que somente o autor sabia fazer. Em suas paginas, o
autor leva tanto o protagonista quanto o leitor, a um mundo cósmico, habitado
por criaturas de outra dimensão e com isso, ficamos imersos na leitura,
tentando descobrir se o que aconteceu foi real ou não. Uma ótima novela, e um
dos melhores textos de Lovecraft. Altamente recomendado.
H.P. LOVECRAFT |
NOTA: 9.5
Desde que se aventurou a adaptar as obras de Agatha
Christie, com o excelente Assassinato no
Expresso do Oriente, lançado em 2017, o ator e cineasta Kenneth Branagh tem
acertado na mosca. Os filmes são muito bem feitos, principalmente os roteiros,
que deixam o espectador envolvido e ansioso para desvendar o mistério.
Foi assim com Expresso,
foi assim com Morte no Nilo,
lançado no ano passado, e é assim também com A NOITE DAS BRUXAS, terceira incursão do cineasta no chamado
“Agathaverso”, novamente dirigindo e interpretando o clássico detetive Hercule
Poirot.
E que filme!
Um aviso. Acabei de sair do cinema, então, tentarei
conter os spoilers. Então vamos lá.
Temos aqui mais um acerto na mosca do cineasta, que
soube adaptar a obra da escritora com maestria, desta vez, segundo consta,
tomando liberdades criativas. Como ainda não li o livro, não posso dizer que
liberdades criativas foram essas, mas digo que ambientar a historia em Veneza
foi um grande acerto, porque criou um clima de mistério – e por que não, terror
– ainda maior para a trama, além de acender minha memoria – mais detalhes
adiante.
Mais uma vez, eu saí muito satisfeito do cinema, e
desde já, peço por mais filmes ambientados nesse universo!
A Noite das
Bruxas é excelente. É muito bem feito, bem dirigido, com ótimo design de
produção, e como de praxe, um elenco estelar. O diretor Branagh fez mais uma
vez um grande trabalho aqui, tanto atuando, quanto dirigindo. Mesmo não tendo
assistido a todos os seus filmes, eu sei o grande cineasta que ele é,
principalmente quando resolve se aventurar no universo de Shakespeare, por
exemplo. Mas devo dizer que ele também encontrou seu lugar no “Agathaverso”, e
espero que continue assim.
Como de costume, temos aqui uma história de mistério,
contada com a maestria que a autora sabia empregar em suas obras – só digo isso
com base na leitura do livro que originou o primeiro filme desse universo, que
vai ganhar releitura e resenha aqui. No entanto, ao contrario das demais, aqui
temos também uma leve história de terror, com fantasmas e lugares amaldiçoados.
Novamente, não sei como é no livro original, mas devo dizer que achei a ideia
de um palazzo assombrado genial,
quase igual aos filmes de terror gótico realizados na Itália nos anos 60.
Eu gostei bastante da ambientação e do cenário.
Parecia mesmo uma casa assombrada há séculos, do tipo que ganham fama com o
boca-a-boca. E claro, o fato de ambientar a historia no Dia das Bruxas foi
outro acerto, porque deu voz àquela velha regra, a de que as assombrações são
mais fortes na Noite das Bruxas.
E como é um filme de Dia das Bruxas – sim, é um filme
de Dia das Bruxas! – temos tudo que se espera de um filme como esse. Isso
porque a história começa com uma festa de Dia das Bruxas, dada pela dona do palazzo, a Srta. Rowena Drake. No
entanto, a festa é apenas um disfarce para uma sessão espirita, que terá como
convidada, a médium Joyce Reynolds, que está ali com o pretexto de entrar em
contato com a filha da Srta. Drake, que morreu misteriosamente anos antes. Mas
pode esperar por mais, principalmente um mistério de assassinato – obviamente,
não direi quem morreu e quem matou – que obriga Poirot a sair da aposentadoria.
E vou parar por aqui, pois não vou entregar detalhes
da trama. O filme acabou de estrear no cinema, então, corra para a sala mais
próxima e confira por si mesmo.
Como já mencionei, o filme possui alguns elementos de
terror, e isso se deve principalmente à ideia de um lugar assombrado por
fantasmas, o que culmina em algumas aparições durante a projeção, e jump-scares
espertos. Sim, temos jump-scares, mas eles são muito diferentes dos usados no
cinema atualmente. E a presença de figuras vestidas de preto, usando as famosas
máscaras também contribui para deixar o filme mais assustador.
Além disso, é um filme que se passa todo durante a
noite, uma noite chuvosa, que obriga os personagens a ficarem trancados no palazzo, reaproveitando uma técnica
narrativa utilizada no primeiro filme – os personagens ficam presos por causa
de um evento natural, no caso, uma tempestade. E tal fato contribui para deixar
a trama ainda mais claustrofóbica, com Poirot interrogando os suspeitos, um por
um, de diferentes métodos, até que um ou mais acabem agindo de forma suspeita e
quase revelando demais. E claro, a lista de suspeitos é enorme.
O elenco também é um grande destaque, novamente
composto por grandes astros do cinema, como de costume. Todos os atores estão
muito bem aqui, e não passam a sensação de atuação forçada ou caricata; eles
realmente passam tudo o que os personagens devem passar, conforme está escrito,
tanto no livro, quanto no roteiro. E é sempre bom ver atores de outros gêneros
em papéis fora de sua zona de conforto.
E antes de encerrar, conforme mencionei acima, o
filme despertou minha memoria por causa de sua ambientação em Veneza. Durante
toda a projeção, eu tive a impressão de estar assistindo a um Giallo,
principalmente Quem a Viu Morrer? (1971),
do diretor Aldo Lado; ou então, ao filme Inverno
de Sangue em Veneza (1973). Tal sensação foi muito boa, e despertou em mim
a vontade de assistir a esses filmes novamente.
E que venham mais filmes do “Agathaverso”!
Enfim, A Noite
das Bruxas é um filme excelente. Uma historia de mistério e horror contada
com a maestria do cineasta Kenneth Branagh, que brilha novamente no papel do
detetive Poirot. A ambientação em Veneza também é um atrativo, em especial o
cenário principal, que passa uma sensação de medo, misturada com desconforto e
claustrofobia. E o elenco também não faz feio, com seus nomes de peso, como é
costume nas adaptações da autora Agatha Christie. Um filme excelente e
assustador. Altamente recomendado.
NOTA: 10 LISA E O DIABO é um filme belíssimo. Uma história de horror, fantasia e mistério contada com a maestria do Maestro Mario Ba...