Resenha publicada em homenagem à atriz Julia Adams, que faleceu em Fevereiro.
NOTA: 10
O MONSTRO DA LAGOA NEGRA (1954) |
Lançado na década de 50, O
MONSTRO DA LAGOA NEGRA encerra o ciclo dos Monstros Clássicos da Universal,
que começou em 1931, com Drácula, dirigido
por Tod Browning e estrelado por Bela Lugosi. Diferente de seus antecessores, o
filme não aposta no horror gótico, e, sim, em uma trama de ficção científica
ambientada no Rio Amazonas, no Brasil.
Mas, mesmo apostando na ficção científica, o filme também é um
exemplar do gênero de horror, com direito a cenas verdadeiramente assustadoras
e clima de tensão onipresente. As cenas envolvendo o Homem-Guelra são as
melhores do filme, e, com certeza, as mais memoráveis; aliás, o Monstro é o
grande destaque, com seu visual clássico e inigualável. Mesmo depois de quase
70 anos, o design do personagem-título ainda impressiona, e supera toda e
qualquer criatura digital do cinema atual.
O que também o torna um dos filmes mais assustadores de todos os
tempos, é o clima de suspense, construído de forma eficiente e simples, mas que
consegue fazer qualquer um dar um pulo. As cenas submarinas também não ficam
atrás, e, mesmo em preto e branco, são maravilhosas e muito bem filmadas.
E, de certa forma, toda essa beleza ajuda na construção e atmosfera,
uma vez que alguns momentos, é fácil esquecer que se trata de um filme de terror.
E como todo filme de terror, os momentos assustadores enchem a tela, com
destaque para a cena em que o Monstro ataca dois mergulhadores embaixo d´água.
Uma sequencia muito bem dirigida e sufocante.
Além do protagonista anfíbio, os protagonistas humanos também não
ficam atrás, com destaque para o trio de cientistas. Julia Adams está
maravilhosa como a estrela Kay Lawrence, que desperta o interesse romântico do
Monstro, bem como o dos dois personagens principais, os cientistas David Reed e
Mark Williams. Ambos passam o filme inteiro disputando entre si a atenção e o
amor da cientista, que mostra-se claramente dividida entre eles.
O filme também se encaixa no perfil clássico da historia da Fera que
se apaixona pela Bela, onde também o verdadeiro vilão da historia não é o
monstro em si. E aqui, a coisa é mostrada com clareza. Williams é o típico
personagem que não se importa com a segurança dos demais, e está disposto a
tudo para obter sucesso na expedição. Tudo mesmo.
O MONSTRO DA LAGOA NEGRA foi
dirigido por Jack Arnold, e é um de seus filmes mais lembrados, ao lado de Tarântula (1955) e O Incrível Homem que Encolheu (1957), este último baseado em um
livro de Richard Matheson. A produção foi marcada por momentos difíceis,
principalmente aqueles envolvendo os interpretes do Monstro; os atores tiveram
problemas com os trajes de borracha da Criatura, principalmente o ator Ben
Chapman, que interpretou o Monstro quando ele estava fora d’água.
Outros pontos memoráveis – talvez os mais memoráveis – sejam a trilha
sonora, com seu tema onipresente, composta por Henry Mancini, Hans J. Salter e
Herman Stein. O tema toca em praticamente todas as cenas em que o Monstro surge
na tela, mesmo que por poucos segundos. Sem dúvida, é um dos temas mais
lembrados do cinema de horror. Outro momento inesquecível é a Clássica cena de
nado sincronizado, protagonizada por Kay e o Monstro. Com certeza, é a cena que
mais define o longa, uma vez que também é uma das mais bonitas. É possível
perceber que a protagonista chamou a atenção da Criatura, e ela rapidamente se
encanta por ela, demonstrando, inclusive receio de se aproximar. Uma clássica
cena de amor.
O filme teve outras duas continuações, a primeira novamente dirigida
por Jack Arnold, onde o Monstro escapa de um parque aquático na Florida e toca
o terror. Hoje, talvez o filme seja mais lembrado por ser um dos primeiros do
astro Clint Eastwood, em uma ponta não-creditada. O terceiro filme mostra o
Monstro mais humano, após sofrer uma cirurgia de emergência. Infelizmente, nenhum
dos filmes foi lançado no Brasil.
O MONSTRO DA LAGOA NEGRA é
um dos filmes de monstros mais lembrados de todos os tempos, ao lado de King Kong e Godzilla. Um dos maiores clássicos do cinema, com certeza, serviu
de inspiração para diversos filmes de criaturas, marinhas ou não. O Homem-Guelra, e seus amigos do Ciclo Clássico da Universal,
foram homenageados pelo diretor Fred Dekker no seu clássico Deu
a Louca nos Monstros (1987), e, por
alguma razão, o tema musical do filme está presente no filme Godzilla
Vs. King Kong (1962), o que deixou o
filme ainda mais divertido.
A melhor homenagem ao filme foi
feita por Guillermo del Toro em A Forma da Água (2017). Fã declarado do clássico,
del Toro inspirou-se claramente na trama do monstro que se apaixona pela
mocinha, e criou uma belíssima história de amor, que levou o merecido Oscar® de
Melhor Filme em 2018.
Um Clássico do Cinema. Um filme maravilhoso. Uma obra fantástica.
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