domingo, 17 de março de 2019

LOBOS (1981). Dir.: Michael Wadleigh.



Resenha publicada em homenagem ao ator Albert Finney, que faleceu em Fevereiro.

NOTA: 10


LOBOS (1981)
LOBOS é um filme excelente. Um dos melhores filmes sobre animais assassinos já produzidos.

Dirigido por Michael Wadleigh, o filme é baseado no livro de estreia do escritor Whitley Strieber, autor de Fome de Viver e do polêmico Comunhão.

O que o torna um filme brilhante é a sua execução. Toda a trama desenvolve-se lentamente, deixando o terror nas sombras, revelando-o apenas nos momentos finais. Durante boa parte do filme, somos apresentados a uma historia policial clássica, com todos os elementos.

Mas não apenas a trama policial merece destaque, como também a trama de suspense, construída aos poucos, na base da sugestão. Não sei se o diretor optou por fazê-lo por razões orçamentárias ou de proposito; o caso é que a coisa funciona brilhantemente. Assim como Spielberg fez em Tubarão, Wadleigh faz uso da câmera subjetiva para simular a presença dos lobos na cidade de Nova York; porém, ele o faz com o uso de câmeras especiais, com efeitos infravermelhos, que visualizam o calor das vítimas, por exemplo.

Outra coisa bem realizada são os truques que o diretor usa para indicar que os animais estão sempre presentes, seja com o personagem especialista, interpretado por Tom Noonan, seja com os personagens indígenas, que constituem um elemento chave da historia. Todos os elementos funcionam e aumentam ainda mais o suspense e a vontade de ver os lobos. E quando eles surgem, – próximo ao final do filme – é possível ver que todos os truques valeram a pena, da mesma forma que no Clássico de Spielberg.

Como mencionado acima, a trama é construída aos poucos, em slowburn, e isso, para alguns, pode ser um ponto fraco. Mas, pessoalmente, eu gostei da maneira como tudo foi orquestrado; até porque, não sei se o resultado ficaria tão bom se os lobos surgissem logo no começo do filme.

Não sei como as coisas funcionam em outros filmes de animais assassinos, principalmente cães, mas aqui, a matança causada pelos lobos tem um motivo: a sobrevivência. Como explica o personagem de Eddie Holt, interpretado por Edward James Olmos, ao personagem principal, interpretado por Albert Finney, tudo está acontecendo por causa da destruição causada pelos homens no passado, o que deixou os animais sem lugar para morar, e a beira da extinção, uma pista deixada brevemente pelo personagem de Noonan, anteriormente. Ou seja, os papeis se inverteram.

Porém, a policia não vê as coisas dessa forma, e, até verem de fato os lobos, acreditam que os crimes são trabalho de um grupo terrorista que está agindo nos Estados Unidos. As sequencias de investigações são muito bem construídas e convincentes. É possível ver que aqueles personagens estão querendo apenas fazer o seu trabalho e garantir a segurança do publico.

Os aspectos técnicos também contribuem para a eficiência do filme. Não conheço o trabalho de Wadleigh, então, não posso afirmar se os seus outros filmes seguem a mesma linha técnica, mas aqui, tudo funciona. A fotografia de Gerry Fisher está perfeita, captando nos tons sujos e decadentes de Nova York com maestria; as câmeras steadicam também fazem bonito, principalmente nas cenas envolvendo a ponte do Brooklyn, onde os índios se escondem durante a noite e trabalham durante o dia. A trilha sonora é magistral, e garante arrepios na espinha.

Além de ser um filme de terror policial, LOBOS também é um filme de terror sobrenatural, e isso é mostrado nas sequencias em que Holt passa por uma transformação na praia, e também na sequencia final. O tema da troca de formas na cultura indígena é muito bem explorado no filme, e, como já mencionado, possui um papel chave na trama, uma vez que fica no ar a duvida se os lobos são de fato lobos, ou índios em metamorfose. O aspecto sobrenatural também é sugerido na sequencia do primeiro assassinato, uma vez que a policia imagina que membros de um culto Vodu estão envolvidos no caso, mas isso é logo descartado. Seja como for, o resultado é arrepiante.

Os animais do título são o verdadeiro destaque. Mesmo com pouca presença, eles enchem a tela com seu ar ameaçador e sua beleza. Eles surgem apenas no final do filme, e o fazem de maneira brilhante. Todos os lobos presentes na historia são negros e a fotografia noturna contribui para o clima de mistério da sequencia em que eles surgem. Eles passam o filme inteiro escondidos em uma igreja em ruinas na parte velha da cidade, e, sinceramente, o ambiente possui um clima gótico que contribui para o ar de mistério e suspense do filme.


Enfim, LOBOS é um filme de primeira. Um filme de terror com elementos de trama policial e mistério e terror sobrenatural, tudo muito bem amarrado em uma trama redonda e bem construída.




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